“É urgente que o Brasil pare de ter um cinema identitário: majoritariamente branco, de classe média e sudestino”

Vinicius Dórea

O cinema brasileiro se encontra em uma encruzilhada de conceitos, oportunidades de reinvenção e revisão de uma nacionalidade. O Fórum de Tiradentes, ocorrido em janeiro deste ano, agora passa por São Paulo para apresentar o resultado das discussões que aconteceram na cidade de Tiradentes. Na ocasião, será também lançada a publicação de uma brochura com todas as diretrizes e recomendações para políticas públicas do audiovisual brasileiro, destinada às lideranças políticas do país. O Fórum de Tiradentes, há três anos, é peça importante na elaboração de novas perguntas e horizontes para esse audiovisual. Tatiana Carvalho Costa, presidenta da APAN e membra do FICINE, foi uma das pessoas presentes no Fórum e conversa aqui sobre os desdobramentos das discussões que aconteceram em janeiro, bem como sua visão pessoal diante de um mar de oportunidades em que nos encontramos.

FICINE – Primeiramente, gostaria que você falasse sobre essa reunião do Fórum que vai acontecer na Mostra Tiradentes de São Paulo. Será uma comunicação do que já foi debatido na Mostra Tiradentes em janeiro ou haverá uma continuação dos debates nas mesas e grupos de trabalho?

TATIANA CARVALHO COSTA – O Fórum acontece apenas em Tiradentes e esse é o terceiro ano de sua existência. E deixo claro que não falo pelo fórum, estou falando como alguém que o acompanha. Ele passa a existir junto com o novo governo para colaborar com a reconstrução das políticas de cultura no Brasil, fazendo frente ao que tinha acontecido antes com o governo Bolsonaro, que foi a desativação do Ministério da Cultura. Foi feito então um esforço coletivo da sociedade para colaborar com essa união e reconstrução, como diz o slogan do governo. O Fórum de Tiradentes é então esse encontro de entidades e representantes do poder público com seminários, mesas e discussões realizadas através de grupos de trabalho de cada área: circulação, exibição, produção, preservação, etc; que inspiram e nutrem a construção de dois documentos: 

  • a carta de Tiradentes, que é uma síntese e é lida no último dia do Fórum

Essa brochura é bem maior do que a carta. Tem 42 páginas e é um detalhamento. Por exemplo: No quesito regulação do VOD (Video On Demand), nós temos que entrelaçar as áreas de produção e distribuição através de linhas transversais e durante as discussões do fórum temos representantes das plataformas grandes e das independentes, as públicas. Ou seja, tentando contemplar um pensamento que seja mais complexo. Também é preciso entender o que é a Mostra de Cinema de Tiradentes e o que é esse evento em São Paulo. A Mostra Tiradentes SP tem 13 edições e ela deriva da Mostra de Cinema de Tiradentes, que tem quase 30 anos. É uma demanda da cidade de São Paulo para a exibição dos filmes que ganharam prêmios em Tiradentes (Aurora e Foco) e uma seleção de filmes que interessem ao público de São Paulo. A discussão do Fórum de Tiradentes é então levada para São Paulo numa partilha com o público com as questões já fechadas. É realizado o lançamento da brochura com as recomendações, que posteriormente vira um documento entregue para o poder público. Em anos anteriores, esse documento maior foi entregue para a Ministra Cármen Lúcia e para o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Ou seja, não é só para o Ministério da Cultura. E como participam do Fórum os representantes ou lideranças e às vezes o presidente, do Fórum de Gestores Municipais e Fórum de Gestores Estaduais de Cultura, esse documento também vai para os municípios e para os estados.

FICINE –  Essa última edição da Mostra Tiradentes teve o tema “Que Cinema é Esse?” na intenção de instigar o cinema brasileiro a criar novas perguntas tanto na criação dos filmes como também na elaboração de novas políticas públicas. Como você enxerga o papel do fórum com relação a pensar e repensar essas políticas?

TATIANA CARVALHO COSTA- Essa pergunta “Que Cinema É Esse?” foi muito instigante para a gente também se perguntar, em paralelo: “Que indústria audiovisual é essa?”. Porque esse é o momento de discutir a indústria audiovisual. Claro que cinema e audiovisual não são só indústria, mas esse ano particularmente nós finalmente tivemos a inclusão do audiovisual numa dinâmica de pensamento e planejamento industrial a partir de ministérios da área da economia do governo. Tem um programa do governo que se chama “Nova Indústria Brasil” e o audiovisual entrou na lógica do planejamento desse programa, que abarca várias áreas. O governo federal tem um conselho que se chama Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial. No final do ano passado, em outubro, o vice-presidente Alckmin anunciou a entrada da indústria audiovisual no CNDI (Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial). Então, o Ministério da Cultura e a SAV (Secretaria do Audiovisual) têm agora assento nesse conselho para pensar a partir do desenvolvimento industrial do Brasil.

Existe um aparente paradoxo na Mostra de Cinema de Tiradentes. E eu quero deixar evidente que isso é uma opinião muito particular, que não é uma opinião da coordenação do fórum. Mas o paradoxo é que os filmes que são premiados em Tiradentes não são filmes feitos nessa lógica industrial. Pelo contrário, são filmes de uma dinâmica autoral e de quase artesania. Tanto que no ano passado o tema da mostra era “Cinema Mutirão”. Eu acredito que esse tensionamento conceitual é muito importante para quem aposta no cinema autoral  se firmar nesse lugar entendendo a complexidade do pensamento e das ações do audiovisual brasileiro. Porque, às vezes, a pessoa vai para a artesania e para o autoral não por uma escolha, mas pelas circunstâncias. Muitas vezes porque não tem grana, porque as políticas públicas de fomento não chegam, mas ela quer fazer cinema e vai fazendo na tora. Lincoln Péricles, sacou? Mas esse aparente paradoxo em Tiradentes é uma coisa muito importante para essas pessoas entenderem que o cinema que elas fazem não é a única possibilidade de fazer cinema e que é preciso que seja uma escolha e não por falta de oportunidade. Claro que a força das circunstâncias faz com que a maioria das pessoas, sobretudo, as pessoas negras do país, historicamente, sequer pudessem desejar fazer cinema.

A grande maioria das pessoas negras que despontaram ultimamente, a partir de 2015, fruto de políticas públicas, entraram desejando fazer cinema, mas não entraram na dinâmica industrial. Por isso falar de indústria junto com o cinema negro é falar de uma discrepância. Nós estamos trabalhando para que as empresas de pessoas negras cheguem nesse devir indústria. É óbvio que a indústria, como o capitalismo, é excludente, porque o capitalismo pressupõe concentração. Mas do ponto de vista ideal, acho importante as pessoas saberem as múltiplas possibilidades de existir no cinema. Seja pelo viés autoral e  das formas inventivas de arranjos possíveis para os filmes existirem, seja através  dessa discussão comercial que está presente ali na cidade, durante o Fórum de Tiradentes também. De forma alguma o Fórum não exclui essas outras possibilidades porque o Fórum também discute formação de público, desenvolvimento, formação de profissionais, etc. Essa estrutura industrial só fica mais evidente porque movimenta a economia, porque a imprensa olha mais para isso, e é o que gera números para a política pública aparecer também.

FICINE –  A Mostra de Cinema de Tiradentes  acaba sendo o lugar do sonho do cinema universitário, principalmente desse que é feito fora do eixo Rio-SP.  Só que também tem esse lado comercial de ter uma vitrine em lugares como São Paulo…

TATIANA CARVALHO COSTA – Mas o Ceará também tem. O Ceará está lançando a Ceará Filmes. Por isso que essa é uma discussão nacional, não é mais uma discussão fechada. Essa lógica de indústria chega nesse lugar. Os sindicatos das empresas estão ligados às respectivas Federações das Indústrias nos Estados. Só pra citar o Sudeste nós temos o SIAESP (Sindicato das Indústria Audiovisual do Estado de São Paulo), ligado à FIESP; o Sicav com a FIRJAN (Federação das Indústrias do Rio de Janeiro) e o Sindav com a FIEMG (Federação das Indústrias de Minas Gerais). Isso acontece tambném em outros estados. A APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro), inclusive, chegou a ter um assento na discussão do audiovisual dentro da FIEMG. Então, no Sudeste, já existe essa  estrutura sobre uma produção industrial. Mas faz muito sentido, por exemplo, que na Paraíba, no Ceará ou na Bahia comecem a pensar no desenvolvimento de uma política pública que incentive economicamente o audiovisual nessa perspectiva industrial porque isso tem mercado. Então, para uma parte do setor, faz sentido discutir indústrias, sim. Não que isso tenha que se sobrepor ao cinema que já é feito. Déo Cardoso, por exemplo, transita entre esses mundos. O Leon Reis também. E toda uma galera no Ceará que saiu do “Vila das Artes”. Então o Ceará já está no futuro.

FICINE – Falando nessa questão da nacionalização, fiquei pensando na questão do Oscar. O primeiro Oscar conquistado pelo Brasil colocou o país em um estado de euforia que parece ter um fim em si mesmo, principalmente porque Ainda Estou Aqui trilhou um caminho que é praticamente impossível para a realidade operária do cinema brasileiro. O que o cinema brasileiro necessita em termos de acesso para que esses momentos de euforia não sejam apenas um êxito momentâneo?

TATIANA CARVALHO COSTA – É para isso que serve o bilionário. Para chegar a lugares que ninguém mais consegue chegar. E ao mesmo tempo, aproveitar esse palco internacional para dizer outras coisas. É o papel do aliado. Mas, obviamente, há um limite. Ao mesmo tempo que esse filme abriu caminho para o mundo olhar para o Brasil, também abriu a oportunidade para o Brasil olhar para o Brasil. Não é só Ainda Estou Aqui que está aumentando a bilheteria, mas outros filmes brasileiros também estão ganhando espaço, puxados por ele. Eu dou aula de cinema, oriento trabalhos de conclusão de curso e entrei nessa discussão em sala de aula. Essa galera mais jovem está com uma sensação de “os humilhados serão exaltados” e isso é ótimo. Por isso que eu discordo um pouco dessa ideia do “fim em si mesmo”. Porque talvez seja o jeito de olhar para esse filme e para a expectativa que se tem em relação a ele. É um filme feito por um bilionário, mas em um momento, lá atrás, eles se aproveitaram da política pública porque fizeram uma sala de roteiro a partir de um edital de desenvolvimento para núcleos criativos. Então, o desenvolvimento desse roteiro começa com a política pública. Eles devolveram o dinheiro porque queriam o direito patrimonial e o contrato com o Fundo Setorial do Audiovisual tem umas implicações relativas ao lucro do filme. E está tudo certo. É assim que o mercado funciona mesmo. E isso também é cinema brasileiro. Cinema feito por quem tem dinheiro para fazer seu próprio filme também é cinema brasileiro.

Acho o Oscar uma bobagem, mas estava todo mundo berrando e chorando. Essa sensação de orgulho de fazer cinema se explica por que nós passamos seis anos desde o Governo Temer sendo tratado como o lixo da humanidade. Imagina que alívio, que delícia sentir isso agora! Porém, não é um bilionário que vai contar a história preta. Não é o Walter Salles que deveria fazer isso. O fato de existir uma pessoa com a quantidade de dinheiro que ele tem significa que, para ele estar nesse lugar, muitas histórias pretas tiveram que ser apagadas. É intrínseco à lógica. Então é uma perda de tempo nossa cobrar de um bilionário que ele se ocupe conosco. E mais do que isso, que ele se ocupe conosco para ganhar dinheiro. Porque é isso que a história do Brasil sempre fez. Nossas imagens, nossos corpos, nosso suor e nossas histórias sempre alimentaram bolsos alheios. Mas para o cinema brasileiro, esse filme é inevitavelmente muito importante. 

Ganhar um Oscar para qualquer cinematografia nacional é muito importante, seja para se pensar uma indústria do cinema, seja para se pensar como que uma sociedade olha para si mesma e valoriza o seu próprio cinema, sobretudo em um contexto de Brasil em que nós passamos os últimos seis anos anteriores ao governo Lula apanhando para caramba com a política pública jogando a sociedade contra nós. É muito importante o que estamos vivendo agora, só que isso não pode ser fogo de palha. É aí que entra a cobrança por política pública consistente. 

A gente produz muitos filmes anualmente, mas esses filmes não dão conta de abarcar a multiplicidade brasileira, subjetiva, cultural, territorial, de gênero, de raça etc. Então, a política pública tem que intervir para que o cinema brasileiro não seja mais identitário. De que Brasil a gente fala quando a gente fala de cinema brasileiro? Que Brasil é esse que o exterior conhece enquanto cinema brasileiro? É um cinema branco, de classe média e masculino. Mas isso não é o Brasil. 

É preciso que haja um cinema verdadeiramente brasileiro. O que é cinema brasileiro? Cinema negro é cinema brasileiro. No Fórum de Tiradentes havia muitas pautas urgentes a serem discutidas, a regulação do VOD (Video On Demand), a industrialização, a lei 13.006 de 2014, que coloca cinema em sala de aula, ou seja, questões macro, mas as nossas questões relativas ao cinema negro ficaram diluídas, apesar de não terem sido negadas. E isso eu lamento um pouco. É preciso que o CONDECINE, que vai vir do VOD, tenha parte direcionada para a produção negra no sentido de ação afirmativa e reparação histórica. Mas, se não tiver regulação do VOD, como a gente faz isso? Então, a gente se une à luta pela regulação do VOD primeiramente. Portanto, o cinema negro só vai existir nesse contexto industrial através de política pública e a gente precisa colaborar com o fortalecimento dessas políticas. Mas, óbvio, que aí entra um impasse que está relacionado à própria dinâmica do capitalismo. E particularmente isso é sempre uma angústia permanente. Porque há uma contradição instalada.

FICINE – Com certeza há. Como é que a gente quer entrar nesse lugar não é mesmo?

TATIANA CARVALHO COSTA – São coisas inconciliáveis. A acumulação do capitalismo pressupõe um marcador hierárquico racial forte. Como que a gente faz para pertencer a um sistema que, para ser forte e existir, precisa nos excluir? Como nós, pessoas negras que trabalhamos com o cinema, podemos discutir e nos ver nas discussões sobre industrialização do cinema sabendo que isso pressupõe o fortalecimento dessa dinâmica capitalista? É complexo. A resposta não é simples. E a resposta não pode ser: “não podemos fazer parte disso”. A gente precisa amadurecer coletivamente nesse sentido para qualificar melhor as discussões de política pública no país mais negro fora da África. E digo mais uma vez, é urgente que o Brasil pare de ter um cinema identitário: majoritariamente branco, classe média e sudestino.

FICINE –  Quero você comente sobre o “Tela Brasil”, o streaming do governo federal. Você acha que essa será uma ferramenta importante para a democratização racial no cinema brasileiro?

TATIANA CARVALHO COSTA – Sim, vai ser super importante. Tem muita gente que não gostou porque não entendeu ou não quer aceitar que o Brasil é um país de brutais desigualdades. Nem todo mundo tem dinheiro e jamais terá como prioridade tirar do seu bolso a mensalidade de uma Netflix. Não é prioridade pagar uma plataforma de streaming para uma família que precisa se virar para sobreviver com um salário mínimo. Além disso, o Tela Brasil não será só esse lugar para exibir filmes brasileiros feitos com dinheiro público. Os Streamings Independentes Brasileiros estão tentando um acordo com a plataforma Tela Brasil para terem um espaço para recomendarem seus conteúdos. É um tipo de cinema que as grandes plataformas comerciais não querem nem saber, como, por exemplo, uma quantidade imensa de curtas-metragens produzidos por pessoas negras, indígenas e LGBTQIA+. Tem, por exemplo, a TodesPlay, a Cardume, a Amazônia Flix, e também tem uma plataforma chamada HandsPlay, prioritariamente para pessoas com deficiência. É uma plataforma de acessibilidade radical. 

Além disso, a Tela Brasil vai ser fundamental para um circuito de circulação de filmes para o contexto que vai ser estimulado pela regulamentação da Lei 13.006, que é a lei que determina o mínimo de duas horas de produção independente brasileira no contexto da educação básica. E essa regulamentação, me parece, que vai ser muito boa para os cinemas negros, porque existe uma confluência quase que orgânica entre o cinema, no contexto da educação básica, e o ensino de cultura africana e afro-brasileira. Além disso, o streaming do governo vai ser muito importante para a formação de público. A sensibilidade dessa galera das gerações Z e Alpha é outra, a economia da atenção é outra e têm uma questão cognitiva de atenção muito forte. 

É uma geração que precisa, inclusive, dar conta de nutrir a sua cognição com mais tempo de narrativa porque está ali acostumado a só passar o feed com um minuto de vídeo. Eu dou aula há 20 anos e ao longo do tempo, meus estudantes foram ficando cada vez menos tolerantes ao longa-metragem. A gente tem que fazer um pacto de não ligar o celular durante a exibição de um longa em sala de aula. Então, o curta-metragem já ajuda nesse contexto. E a Tela Brasil está atrelada a outros programas do governo que ampliam o acesso à banda larga, pois não adianta uma plataforma de streaming se as pessoas não têm acesso à internet. Então o Tela Brasil pode ser bom para os cinemas negros nesse sentido da difusão. Principalmente porque as pessoas querem se ver nas telas.

FICINE – Em tempos de ascensão da extrema direita no mundo e de um retorno, sem pudor, de símbolos fascistas e supremacistas, você acredita que o fortalecimento das políticas públicas de investimento no audiovisual no país funciona como uma estratégia para impedir que esses extremistas retornem ao poder no nosso país? 

TATIANA CARVALHO COSTA – Eu não acho que exista uma relação direta. No Brasil e no mundo, estamos ouvindo falar dessa “agenda anti-woke”, que nada mais é que um novo nome para a supremacia branca e a eugenia. Nos Estados Unidos, essa semana, as Forças Armadas, colocaram um símbolo nazista, um símbolo que o Hitler usava para marcar pessoas LGBTQIAPN+ para dizer que eles não cabem nas Forças Armadas. Então, é isso que a gente está vendo: eugenia. A agenda anti-woke, que é inclusive um nome horroroso, está dando um verniz de novidade para um negócio que está aí desde sempre e que agora está aumentando. É muito complicado porque o cinema não nos salvará. Não tenho esse otimismo, mas, eu tenho convicção de que é nisso que temos que apostar para a descolonização dos imaginários. A Beatriz Nascimento quando vai falar de Quilombo, ela diz que a prática de Quilombo não é só a prática de guerra, mas também há a paz quilombola como prática. Porque é aí que há uma invenção propositiva de um modo de vida humana e livre, mesmo dentro do horror de uma sociedade escravista. É uma sociedade dentro da outra. Ela diz que isso é uma correção da nacionalidade. É dar conta de dizer para o Brasil o que o Brasil pode ser. Então, acho que a gente tem a oportunidade agora, em diversas áreas, de ser uma referência opositora para o mundo, para a América Latina e para nós mesmos. Porque eu e você só estamos aqui hoje porque quem veio antes da gente acreditou em outras coisas. Por isso que eu estou falando que a agenda anti-woke não é novidade. Antes da abolição vieram 400 anos de escravização. Após a abolição, veio a eugenia. A gente nunca foi considerado nesse sistema. E a gente sempre esteve aqui, sobrevivendo e fazendo coisas incríveis.

Publicado por FICINE

O FICINE tem por objetivo a construção de uma rede internacional de discussões, projetos e trocas que tenham como ponto de partida e ênfase a reflexão sobre os Cinemas Negros na diáspora e no continente africano.

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